"Muito cabe num saco"
A primeira vez que aqueles sacos eram preparados. Eram uns sacos. Poderiam estar até ligeiramente rotos. Gastos. Não, claro que não. Tinham de ser os melhores sacos com tudo o que era necessário.
Haverá lá saco onde caiba tudo? Muito pouco cabe em sacos.
Era pois a primeira vez que se punha o que se pode em sacos e se sai para o distribuir.
As apresentações são rapidamente feitas e - não sendo o surfista esperado - parecem contentes por ter mais uma pessoa disposta a colaborar e a pertencer ao grupo.
Mais sacos. Sacos com o que se pode e que pode ser útil e fazer uma curta companhia.
Seguimos caminho.
Discorrem as histórias acompanhando as ruas da cidade. As paragens estão marcadas por estes voluntários. De certa forma conhecem as marcas que as histórias deixaram nestas pessoas. São repetidas as histórias, algures já ouvidas. Uma fuga à violência, um copo a mais, uma doença grave demais, o trabalho que se acaba...
Depois aparece o Sr. A. É como eu. Como todos nós, claro. Mas como eu porque é a primeira vez. Está na rua há 8 dias. A empresa fechou, o patrão fugiu e não tem ninguém. Só pode contar com o mundo existente num vão de um prédio. E esse não é muito sorridente. Não sei bem que lhe diga porque não tenho, não existe solução imediata. Já fez 26km a pé para tentar encontrar alguém no escritório do patrão. Sem sucesso. Agora vai tentar a ajuda da Segurança Social.
Apoio-o, dentro do possível, mas que acontecerá se não conseguir nada? Onde estará na semana seguinte? Como estará na semana seguinte. Na cabeça desenha-se-me uma espiral.
Espero estar errado.
De uma forma ou de outra são abandonos sofridos. Apesar de tudo, os sorrisos existem e são verdadeiros. Este grupo faz bem e isso não cabe num saco.
Hugo Ribeiro
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