"- Onde fica o fim?"
Sei-me de abalada, por isso vou tomar a ousadia de fazer desta crónica uma apropriação pessoal do meu momento de despedida. Espero que ninguém fique incomodado com esta pequena excentricidade. Entendam que este é um momento particularmente especial para mim.
A minha presença e desempenho na vertente, e no grupo, terminam no final deste mês de Junho, ano 2010. Por motivos diversos, e após uma consciente reflexão interior, percebi que é momento de preparar-me para novos trilhos, alguns deles desejos adiados pelo compromisso que assumi com o FASrondas. O respeito que tenho pelo grupo e, especialmente, a consideração imensa que sinto por cada Família ajudada, contribuíu para a decisão da minha saída no momento presente. Para que ambos possamos prosseguir integramente, o FAS precisa ficar "disponível sem mim" e eu “disponível sem o FAS”.
Este processo tem sido preparado durante os últimos três meses decorridos. Três meses pareceu um período temporal adequado ao acompanhamento e à integração gradual das pessoas que me substituirão. Por outro lado Junho precede o fim do ano lectivo, altura em que o grupo efectua uma reflexão sobre o voluntariado praticado no ano transacto e pensa sobre o ano futuro – uma sobreposição de fins propícia à “libertação” do meu lugar.
Aproveito para sublinhar um procedimento que reconheço como essencial à saúde do grupo: a importância da promoção de dinâmicas de transversalidade no seu funcionamento interno. Ou seja: a possibilidade de qualquer voluntário poder participar/executar/envolver-se/experimentar/liderar. Acredito no contributo único que cada nova pessoa, nova e diferente pessoa, possui somente em si mesma e que só ela poderá dar a qualquer missão. Todavia é responsabilidade do grupo o estabelecimento de janelas e de espaços que facultem esta possibilidade. O dom único de cada voluntário servirá o FASrondas, neste caso especificamente as Famílias, se dermos a sentir votos permanentes de absoluta crença nas capacidades únicas, maravilhosas e insubstituíveis de todo e qualquer ser humano.
As Boas-Vindas a quem me substituir e abraçar o desafio da coordenação das Famílias! Estou certa que as tuas valências contribuirão para um compromisso social do FASFamilias cada vez mais profundo, assertivo e eficaz junto de todos os seres humanos invisíveis, solitários e sofridos que caminham na cidade do Porto.
O meu sincero obrigada a 5 amigos que foram amparo nesta missão de coordenação: o Jorge, a Sara, a Inês e, mais recentemente, a Ana e a Rosinha.
A todos por quem passei e com quem me cruzei, no grupo e nas ruas, ao longo destes 5 anos … um sorriso imenso, de peito totalmente aberto…
Sou hoje, sinto-o, uma pessoa invariavelmente um pouquinho melhor. Nas rondas e nas Famílias recebi um retorno que nunca aí esperei encontrar: um certo reencontro comigo mesma e com o caminho/missão de Vida. No FAS descobri e aprendi muito sobre as exigências das relações humanas… a imensidão, o mistério e a beleza dos homens… sobre o "Zé" da ronda, a família da “Ritinha”, a timidez do voluntário "João" e o papel do grupo na sociedade... Que consiga manter-vos sempre, sempre num lugar especial no meu coração.
Parto repleta porque só recebi, e recebi, e recebi…
“ - Onde fica o fim?
- Onde residem os inícios.”
Bem-hajam.
Raquel
1 comentário:
Parabéns pelo teu trabalho no grupo... sei bem o quão dificil é abandonar um barco ao qual nos dedicamos tanto...
um abraço amigo... e especial,
diogo
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