terça-feira, novembro 11, 2008

Crónica da Ronda da Boavista - 02.11.2008

Não sendo todos os domingos que agora escrevemos as crónicas, as novidades são muitas mais e nem sei bem por onde começar!!!
Depois dum período de mudanças, da Ana partir para os Açores, da Joana estar em Paris, do sérgio voltar á faculdade, decidimos que precisavamos de mais um elemento para completar a nossa ronda.
E, assim entrou a Manela. Bem vinda!!!

Para mim e para a Manela  o domingo de rondas começou bem mais cedo que o habitual. Fomos ao MUUDA buscar as roupas da campanha e passamos a tarde a arrumar e a retirar já alguns casacos quentinhos, cobertores, cachecois que iriamos precisar para a noite.

A ronda começou aterefada, com o costume, fazer sacos, preparar carros, e o momento de pausa antes de mais uma ronda.

Lá partimos. Eu, Manela e Sérgio.

Primeira paragem já habitual e já há quase dois anos a nossa D F. Estava bem mais bem disposta que o outro domingo, que estava chateada com uma dor de dentes que foi esquecida com a fotografia que tinhamos tirado à uns tempos e que demos, com o tão esperado presente de anos e claro umas fatias de bolo, não muitas por causa dos diabetes.
Lá estava com o filho, contente por nos ver, já a usar o presente que lhe demos, foi entrevistada para uma revista e no próximo domingo mostra-nos o que disse, estava muito orgulhosa do que tinha falado para a revista, tem sido muito elogiada por quem tem lido. Com duas novas companhias, uns gatos, lá a deixamos e partimos.
Seguimos para o lar de idosos onde costumamos levar sempre o pão que nos sobra depois de fazer os sacos. Entregamos e seguimos em direcção ao S G.
Estava com um discurso bem mais positivo que no domingo anterior. Lá lhe dissemos quando era a festa de Nossa Senhora das Candeias, tinhamos-lhe prometido que iamos saber a data. Demos-lhe um casaco bem quentinho para fazer frente ao frio que estava. Ficou muito contente e ainda mais quando lhe demos também umas coisas para a mulher. Aahh, também no domingo passado lhe tinhamos  dado um bolo para ele festejar os anos com a mulher e a fotografia de colete laranja que tinhamos tirado, adorou!
Apareceu o C. que já não viamos à muito tempo, mudou de sitio de dormir. As feridas da cara estavam o melhor aspecto, mas infelizmente continua na via d costume, sem grandes perpectivas de sair.
Partimos para debaixo da ponte!! O sr Z. não estava, mas no último domingo tinha-mos estado com ele, por isso imaginamos que não andasse longe. Também ficou muito orgulhoso quando lhe demos a fotografia.
Paramos do outro lado e lá estava o nosso informador MOR de futebol. Todas as ligas, todos os clubes, sejam portugueses ou não o sr A. informa-nos de tudo! Não lhe escapa nada. Sabe quem marcou, como marcou, quantos pontos tem, e claro remata sempre a conversa com os jogos da semana que vai começar.
Estava muito desaconchegado e por isso demos-lhe um casaco. Ficou contente e agradecido.
Seguimos para o Z.C.. Sempre a mil, sempre a correr, sempre a mandar nas pessoas que passam para estacionar, "estragam o espaço, usam a mais, cabia lá outro!" sempre com novidades de rua. Qualquer  coisa que queiramos saber do que se passa na rua é só perguntar ao informador Z.C!!!!
Ainda não é desta que está convencido a sair daquela vida. Nem com os exemplos das pessoas que conhece tão bem como a M. ou o J.P ele se convence a deixar aquela vida.
Partimos para o J.P. Ainda não tem quarto, quase há seis meses de vitória, desintoxicação, e não há meio de lhe sair a sorte grande, um quarto.
O J. P. conseguiu sozinho sair da vida que tinha, largou o vicio, arranjou-se como podia, arranjou emprego inicialmente a lavar carros. Com a crise acabou por perder o emprego, mas não foi por isso que voltou a cair na vida que tinha antigamente. Lutou e agora já tem novo emprego. Só lhe falta mesmo um quarto, já nem pedimos casa, mas quarto é o minimo!
Finalmente encontramos a D G. Ja não a viamos à algum tempo. Tinha estado com gripe na semana passada por isso é que também não a vimos. Lá lhe demos o saco do costume, ficou agradecida, viasse que tinha saudades nossas. Contou-nos que o amigo do M. está em desintoxicação e que agora tem uma namorada "muito bonitinha".
Também não sabe de nada do sr R.
Chegamos à última paragem da noite, o mitico sr A. Continua à espera que lhe seja atribuido o trabalho comunitário que vai ter de fazer por causa do julgamento que teve. O filho continua a dizer ue não o quer ao lado dele. Mas segundo ele "o presidente da junta está a tratar do caso". Também não sabe muito do sr R, disse-lhe como lhe tinhamos pedido que o saco agora só era entregue se ele viesse ter connosco. É o segundo domingo depois deste recado que não o vemos. Parece que o vicio fala mais alto e por isso afasta-se daquela zona e percorre quilometros só para um traçinho de bagaço.

São as pequenas coisas como as fotografias que fazem grande diferença, ou os casacos que tivemos da loja, ou as comidas que levamos pensando em cada um deles, ou a data da festa que o sr G tanto queria saber, que faz com que cada um deles seja especial para nós. Que faz com que durante a semana tiremos cinco minutos do nosso dia-a-dia para podermos tratar dos pedidos que nos vão fazendo. Coisas tão pequenas e que custam tão pouco, talvez insignificantes para quem não os conhece, mas que para eles são os minutos do domingo que são só para eles.

O melhor no meio de tudo não é dar o que nos pedem, mas recebermos o carinho com que todos os domingos nos recebem e perguntam e se lembram daqueles que não estão.

Benedita Salinas

1 comentário:

"Babel" disse...

Olá a todos
em relação ao JP aconselho a entrarem em contacto com a Segurança Social e avaliarem a situação dele. Se são essas as condições em que ele se encontra - se são mesmo - não há justificação para continuar na rua.
em alternativa podem encaminhá-lo para outras instituições.
se necessitarem de mais informações eu posso ajudar.