domingo, fevereiro 13, 2011

Crónica Familias Outubro

Ser voluntário, ajudar os outros é bem mais complicado do que alguns possam pensar: é necessário estar presente sem concordar e entender, é preciso apoiar mesmo quando sabemos que esse não será o melhor caminho. É assim a nossa história, uma história com voltas e reviravoltas constantes de idas e chegadas. Mas como um verdadeiro amigo, como uma mãe ou um pai acolhe o filho pródigo, também um voluntário tem de ter sempre o coração aberto para acolher os outros.

O senhor J.C. habituou-nos ao seu sorriso sempre aberto, a uma prontidão e vontade tais para resolver a sua vida que até para nós servia de exemplo, ao seu intersse e preocupação connosco: "mande-me um toque quando chegar a casa!" "Veja lá, não apanhe frio"! Mas um dia, num telefonema inesperado diz-nos "vou viver para outra cidade, vou viver com um antigo amor!". Ficámos com receio, achámos precipitado e até disparatado, tememos pela sua saúde e por uma nova desilusão na sua vida. Mas apoiámos, tentando perceber a situação, conversando com ele. Parecia mais feliz que nunca!

Foi-se embora. Passado poucos dias já estava a ligar dizendo que ia voltar, porque tudo tinha corrido mal. Nós ouvimos e apoiámos, tentando perceber como iria fazer para alugar novamente um quarto, oferecemos a nossa ajuda para tudo o que precisasse. Porém, passados uns dias o nosso amigo voltou a dizer-nos que afinal não regressaria ao Porto, que já estava tudo bem e que ficaria a viver com o seu amor antigo. Desta vez pensámos que a sua partida seria definitiva.

Passaram uns meses, com uns telefonemas difusos de vez em quando. Acreditámos que o Senhor J.C teria encontrado um rumo definitivo na sua vida, chegámos mesmo a sentir o sabor da "missão cumprida". No entanto, há uns dias ligou-nos, dizendo que já está no Porto, que a sua saúde piorou imenso, que terá de ser operado e que tudo não passou de um erro. E nós? Nós, cá estamos, de braços abertos, para apoiar aquele que se tornou um amigo, na incerteza constante, mas sem moralismos, sem opiniões, apenas dando um pouco do nosso tempo, atenção e amor a quem carece tanto deles…

Sofia e Cecília

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