Os meus heróis do voluntariado
F. é visita regular de muitos toxicodependentes. Há anos que palmilha, com os colegas, o Bairro de São João de Deus, que bem poderia chamar-se Bairro do Fim do Mundo, Bairro do Apocalipse ou, simplesmente, o Inferno.
A reportagem realizada em 2005 (mas tão actual e recentemente exibida numa formação) mostra-nos farrapos humanos que vivem na mais absoluta miséria e rodeados de imundice. Vivem em barracas com lixo por todos os lados. E com os traficantes de droga sempre por perto.
Picam-se várias vezes por dia, alimentando o vício maldito da heroína. Desesperados, amarram qualquer coisa ao braço (uma corda, um cinto...) em busca da "veia amiga", que ajude a rapidamente receber o imundo veneno que, há anos, os escraviza e os afastou da família, emprego e amigos. E os reduz a seres de quem fugimos, quando os vemos, por vezes.
Os técnicos/voluntários a tudo assistem com uma impressionante calma, procurando estabelecer pontes, passo a passo. Primeiro, com o fito de recolher as seringas e de as trocar por novas (e descartáveis), diminuindo os riscos de propagação de SIDA e Hepatites.
Depois, ganhando a pouco e pouco a confiança e, mais tarde, tentando tirar este ou aquele do "buraco" e o levar a uma consulta, a um internamento, quem sabe, a um tratamento com sucesso.
Se não é para qualquer um ver o documentário, muito menos é para qualquer um lidar com isto todos os dias, anos e anos a fio. Estar a conversar com os tais "farrapos humanos" a picar-se, com a seringa pendurada no braço é muito duro de se ver.
Foi um grande murro no estômago que levei. Pensarei duas ou três vezes antes de dizer que tenho problemas.
Estes técnicos/voluntários têm uma coragem, dedicação, paciência e fé verdadeiramente impressionantes. Por isso são os meus heróis do voluntariado!
Miguel Coelho
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