Eu sou o Diogo, desde Setembro de 2007 que faço voluntariado nas Aldeias, entrei para o FAS, para uma experiência diferente, Ser Voluntário!, desde então, que acordo, aos sábados, de quinze em quinze dias, ou uma vez por mês, para algo diferente, para algo que sei que aquele dia vai ser para aquilo, e sobretudo para aquelas queridas pessoas. Lembro as primeiras vezes que visitei as aldeias, toda aquela cumplicidade que já se sentia,... os rituais,... algo que ainda hoje é assim... e que é sempre bom e é sempre novo, de cada vez que fazemos mais alguns quilómetros até lá, conversas na viagem, o almoço, o cafézinho ou então a sorna, depois a partida para as nossas queridas senhoras, depois um encontro e a partida para o Porto... isto é mesmo giro...
Gostava hoje de partilhar uma história que me lembro muitas vezes durante as nossas visitas... os rituais...
O principezinho voltou no dia seguinte.
- Era melhor teres vindo à mesma hora - disse a raposa. Se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito.
São precisos rituais.
- O que é um ritual? - perguntou o principezinho.
- Também é uma coisa de que toda a gente se esqueceu - respondeu a raposa. - É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias e uma hora, diferente das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, têm um ritual. À quinta-feira, vão ao baile com as raparigas da aldeia. Assim, a quinta feira é um dia maravilhoso. Eu posso ir passear para as vinhas. Se os caçadores fossem ao baile num dia qualquer, os dias eram todos iguais uns aos outros e eu nunca tinha férias.
- Adeus - disse a raposa. - Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
[Saint-Exupéry, O Principezinho]
Muitos conhecem... mas é mesmo isto... Chegamos a Casa da D. Alda, chamamos cá de fora... e lá está ela... à nossa espera...
Com a D. Aurélia... nem precisamos de ir ter com ela... encontra-nos sempre, sabe sempre por onde estamos e por onde vamos,...
Com a D. Maria do Carmo... lá está ela... com a sua mantinha sobre as pernas à nossa espera na entrada da sua casa... e é isto... é este o ritual que nós levamos... para estas senhoras... é o bastante... saber que nós lá vamos... para poderem vestir o coração com um sorriso, e "É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias e uma hora, diferente das outras horas."
Aproveito também a crónica para lembrar a D. Cândida... e as suas histórias, e os seus suspiros...
Na última visita foi um dia de muitas recordações, falamos de quando começou o grupo a ir às visitas... a D. Alda lembrou todos os rapazes que por lá passaram nas visitas... o Tiago, os "Joões", o Nuno... das meninas também se falou...
no meio da conversa... falamos de política (eram as autárquicas no dia a seguir), notou-se ali entre a D. Alda e a D. Aurélia, umas pequenas divergências de opiniões, mas ambas sabiam em quem votar no dia a seguir, foi então que eu e a Isabel, decidimos desafiar a D. Alda e a D. Aurélia a um pequeno passeio, que acabou por ser bem maior do que eu julgava, a D. Alda, afinal estava cheia de força, e queria ir sempre "mais ali à frente" dizia ela que já não fazia aquele caminho à muito tempo, e a D. Aurélia... sempre fina... nem parece os seus 94 aninhos, não imaginam o quão forte ela é... é uma grande mulher.
Por fim fomos visitar a D. Maria do Carmo, e como é claro, acompanhados pela D. Aurélia, ali... a conversa rolou muito bem entre elas... enquanto eu aproveitei também para por a conversa em dia com a Isabel =)
Foi assim... mais um dia... um dia marcado pelas recordações, e pela força de jovens senhoras que visitamos.
Com muito mais a dizer... mas talvez fique para uma próxima...
diogoCosta
3 comentários:
Diogo RUUUUUULES!!
O eruditismo das tuas palavras misturado com pequenos apontamentos de humor e medianamente exposta através de uma passagem textual com palavras desse grande génio literário A. Saint-Exupéry, fazem da tua crónica uma das mais belas que já li até hoje! PARABÉNS!!!
Como não é todos os dias que elogio uma crónica: "Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar" = Espécime avícola na cavidade metacárpica; supera os congéneres revolteando em duplicado. ;)
Abraço
Que delícia, querido Diogo!
É muito bom revermo-nos naquilo que os nossos queridos aldeões vão escrevendo, para além disso, Saint Exupéry cai que nem uma luva:
"o essencial é invísivel para os olhos..."
Obrigada por também vestires o meu coração com um sorriso :-).
Um beijinho.
Sara
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