Encontro marcado para as 16:30 em frente da UHSA. Hoje são 7 (Ana Aguiar, Diogo, Ana Pinho, Sónia Ferreira, Inês, Katy e Cláudia Henriques) os voluntários a visitar os imigrantes ilegais que foram apanhados por todo o país e que ali esperam por saber o que o futuro lhes reserva.
Como já e rotina, assim que entramos no estabelecimento prisional (porque, ao fim ao cabo, eles estão ali presos) dirigimo-nos a sala onde guardamos os nossos instrumentos (jogos, leitor de CD, balde com bolas, etiquetas, guitarra, entre outros), instrumentos esses que nos vão servir de ponte e nos ajudarão a estabelecer contacto com os retidos. Como sempre, a expectativa é grande (principalmente para os voluntários novos e/ou aqueles que já não vinham há algum tempo), pois nunca se sabe o que se espera: podem ser muitos ou poucos imigrantes, podem vir de qualquer parte do mundo, podem ou não estar interessados em interagir connosco, enfim, uma variada lista de situações das quais não temos controlo e que somos "obrigados" a saber lidar na hora.
Ajudando-nos uns aos outros, carregamos o material para a sala onde os imigrantes se encontram, a queimar o tempo que, para a maioria deles, não passa. Pelo corredor, encontram-se algumas caras já conhecidas que nos recebem com um olá ou um sorriso: imigrantes que ainda permanecem no estabelecimento e nos reconhecem de visitas passadas. A sua boa recepção ao nos verem, ainda que distante, e vista por nos como um sinal de que o nosso tempo ali passado não é em vão e que de facto eles valorizam a nossa disponibilidade em ir passar a nossa tarde de Domingo (ainda que bastante chuvosa e fria) na companhia deles.
Entramos por fim na sala. À primeira vista, parecem ser bastantes, cerca de 25, 30. Alguns olham-nos com ar desconfiado, outros (entre eles) comentam, outros mostram-se entusiasmados com caras novas, outros simplesmente ignoram-nos o que, como é lógico, tal acto não é julgado por nós, pois estão no direito deles.
Após apresentação do nosso grupo, cantámos a música. A adesão não e muita, por isso passamos a etapa seguinte: o jogo do novelo/da rede. A adesão aí já é maior: alguns participam voluntariamente, outros são motivados por nós, outros recusam-se a participar, mas nem por isso deixam de estar atentos ao que se esta a passar. Através deste jogo, percebemos que as nacionalidades predominantes naquele dia são brasileira e croata. Depois um ou outro oriundos da Ucrânia, Nigéria, Marrocos….
Ainda dentro do jogo do novelo, lemos o poema " Não me chames Estrangeiro". Embora durante o jogo houvesse ainda algum ruído de fundo (provocado pelos imigrantes que não aderiram ao circulo), é-nos notório que, na leitura do poema, o silêncio instala-se e há um interesse especial em perceber a mensagem que queremos transmitir: a que de independentemente da nacionalidade e situação de cada um, somos todos iguais. De certo modo, o poema colocou-os mais a vontade e facilitou a nossa relação com eles durante as restantes actividades que se seguiram. De facto, e após dissolver o circulo do novelo, o grupo espalhou-se pela sala, e cada um se entreteve com uma determinada actividade: uns a ouvir musica, outros a jogar com as bolas, outros a jogar ao Uno, outros a jogar as cartas, etc. Era de reparar que na maioria dos subgrupos que estavam na sala, poucos eram aqueles que não tinham um voluntário inserido neles. A partilha de jogos que eles próprios conheciam e que nós nos disponibilizamos a aprender foi algo que funcionou muito bem e que nos permitiu ainda mais aproximarmo-nos deles. Mais para a frente e depois do "gelo quebrado", houve oportunidade de realmente falarmos com eles, muito mais desinibidos e comunicativos, de sabermos um pouco mais sobre as suas vidas, do que eles sentiam naquele momento, dos seus desejos para o futuro. Foi curioso o facto de uma imigrante brasileira, que não estava na altura da apresentação e que chegou mais tarde à sala, quando nos viu, tão dispersos e integrados, comentou com outra imigrante que pensava que nos éramos novos imigrantes que tinham chegado ao estabelecimento.
Contudo, para nós o tempo passou rápido, e quando nos demos conta já passava das 18:30h, da nossa hora de saída. Despedimo-nos de todos com um abraço e um até breve, sendo notório em alguns, alguma tristeza de nos verem partir, o que nos fez sentir que, pelo menos desta vez aquelas 2horas passaram também rápido para eles.
Cláudia Henriques
Sem comentários:
Enviar um comentário